Lembro como se fosse hoje do suor apreensivo que escorria no canto da testa de economistas internacionais tentando explicar (e do restante tentando entender) o que estava acontecendo com a economia mundial. Depois de anos de bom agouro e lucros irreais, a ecologia econômica mostrava sua força num tsunami de quebradeiras ao redor do globo. Sem distinção de credo, cor e principalmente de renda, vimos em colapso um dos maiores conglomerados endinheirados, um ícone de confiabilidade, o Lehamnn Brothers e tudo que nele estava de alguma forma atrelado.
Não vou aqui perder tempo explicando o que aconteceu. O que passou, passou. Já era. Chorem-se as saudades dos mortos e os dólares voláteis que sumiram. O futuro acabou nos reservando outras surpresas mais interessantes.
Aqui no Brasil, sentimos também essa apreensão e, contradizendo alguns e corroborando outros, até que passamos ligeiramente incólumes à sacudida. É claro que empresas puxaram alguns freios, como o digam as montadoras que, mais à frente no ano, choraram como viúvas arrependidas por terem mandado embora mais da metade do seu efetivo. Nós, pobres mortais, por nossa vez, nos aproveitamos de algumas retomadas. Carros ficaram mais baratos, reformar a casa ficou mais barato, geladeiras ficaram mais baratas e, agora já no fimzinho do ano, até móveis ficaram mais baratos. No final das contas, bem como um filme panfletário da guerra fria, a derrota do capitalismo foi a vitória do povo!
Em compensação, no olho do furacão, o novo presidente teve um perrengue de estréia para se ocupar. Teve que abrir o bolso, reformar alguns vazamentos aqui e ali (pois é, lá isso tb acontece), até que no final do ano está querendo fazer um grande SUS para curar o crescente número de americanos cardíacos que vem crescendo desde setembro de 2008. Pra piorar a sensação de hecatombe e o sentimento de fragilidade (afinal, americano pra sentir medo só mexendo nos prédios ou no bolso), em janeiro um avião voltou a cair em NY...dessa vez no Rio Hudson. Um dejá vu macabro para a memória recente desse povo tão sofrido.
Mas voltando ao nosso umbigo, o primeiro trimestre passou como um susto, nos revelando um alívio imediato, mas vão. A nossa hecatombe é interna mesmo. O Brasil tende a se implodir e não explodir. Experimentamos mais um ano de impotência política e descrédito pelas instituições. Foi polícia desviando droga, político desviando verba, rio desviado para o lado errado (como diria Ney Matogrosso: "Lá vai São Francisco tão pobrezinho...”
Enfim, nesse quesito se formos pensar melhor, não houve novidade. Talvez o fato mais inusitado seja o deputado que tinha um castelo. Perdoado pelo conselho de ética, não por menos, uma vez que foi este foi presidido pelo deputado Nazareno Fonteneles (PT-PI)...não havia o que esperar além do perdão do nazareno. Esse deputado deve ter rezado mesmo um bocado em sua capela particular na ala oeste de seu castelo de 25milhões de reais em São João Nepumoceno, Minas, lugar onde ele deveria estar pois esteve ausente do Plenário em 14% seções da Câmara.
O ano de 2009 também foi o ano das redes sociais. Foi só promover uma briga de egos dentro de uma delas e, pronto, todo mundo agora quer bater boca publico-secretamente. Nunca se falou tanto em Twitter, Facebook, YouTube etc...Até o já bom e velho Orkut passou por uma repaginada pra atrair de novo a galera que o estava deixando por outros mais novos, mais bonitos e tão interessantes quanto. Mas mania virtual do ano mesmo foi bater boca no Twitter. Tendência revelada nos EUA (claro!) começou quando Lindsay Lohan quis lavar suas calcinhas sujas na rede com sua amante a DJ Samantha Ronson (aliás, se não fosse pela morte do Michael Jackson, a menina levaria o troféu de celebridade bizarra do ano, seguida bem de perto pela Amy Winehouse). Daí em diante foi um Deus nos acuda. Teve desde pseudo-celebridades até as anãs brancas de maior magnitude se rosnando pela web. Nem a rainha dos baixinhos ficou de fora, colocando as garrinhas de tigresa de meia-idade de fora contra seus próprios seguidores só porque eles criticaram o fato de os posts serem feitos em caixa alta e a Sasha ter postado mensagens com erros de português. Convenhamos, que rainha merece uma corte dessas?
Mas o bate-boca mais bizarro mesmo foi o do nosso ex-presidente Collor com o imortal (não por conta da Academia Brasileira de Letras, mas porque vaso ruim é duro de quebrar) Pedro Simon. Antes de tudo, diria que o diálogo foi quase shakesperiano, não fossem as notas machadianas nas colocações do segundo e a baba satânica no canto da boca do primeiro. Foi a primeira vez que um debate no Senado me prendeu a atenção. Aprendi que meu vernáculo está longe de ser amplo e que, sim, temos muito que aprender em termos de impropérios com nossos representantes civis. Bufando no microfone, após ter sido acusado de relações impróprias (no sentido político, é claro) com o Deputado Renan Calheiros nosso ex-piloto de jet-ski soltou pérolas como “essa casa (referindo-se ao Senado) não haverá de se agachar sobre pressões seja da mídia seja do senhor (referindo-se ao próprio Pedro Simon) nem de quem mais esteja deblaterando como o senhor deblatera, parlapatão que é, desta tribuna”. Mais uma vez nossos dirigentes mostram que são extremamente bem preparados para o que fazem.
Mas quem, pra mim, levou o Oscar do ano não foi “Slumdog Millionaire” mas sim “Se beber, não case”. Quase censurado no Brasil, o filme é uma obra-prima que relata a mais traumática mudança de fase na vida de um homem: deixar a infância prolongada e entrar na vida de adulto com todas as frustrações que ela gera. Fenomenal. Mesmo tendo sua inteligibilidade muito maior no público masculino, o que talvez tenha afetado seu desempenho em venda de ingresso, o filme trata de forma magistral o último dia de solteiro da vida de um rapaz normal, como qualquer outro e conta o que acontece (com somente uma pitadinha de exagero) o que acontece quando amigos muito amigos se juntam inconsequentemente, o que acontece com freqüência.
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