Cada escolha pressupõe uma perda
A cada momento que nos deparamos com a difícil tarefa de abrir mão de alguma coisa em prol de outra nosso pobre coração vacila. E é exatamente essa característica que nos diferencia dos outros seres vivos que nos causa mais sofrimento. A nossa consciência treinada pelo tempo a acumular e ter, se contorce toda vez que nos é imposta uma decisão. Evitamos a escolha na medida em que a decisão pressupõe uma perda. E o peso da perda nos angustia e assombra.
Curioso que exatamente essa nossa função (ou ilusão, como alguns preferem) é ao mesmo tempo nossa cruz e nossa redenção. A mesma consciência que nos estimula ao racional, ao cartesiano, a concreto, também nos impõe a projeção, a possibilidade, o abstrato. Somos os únicos na Terra que precisam justificar suas escolhas e aceitar suas consequencias. As opções nos torturam. Não há sofrimento na rosa cuja missão é perfumar nosso jardim. O peixe não sofre em sua submissa entrega ao anzol. Não ha angústia nas árvores ao produzirem suas sobras e frutos. Qual a nossa missão?
Por outro lado, precisamos a todo momento achar algo superior ou mais importante que justifique nossas escolhas e nos amenize o sofrimento causado pelas perdas que elas pressupõem. Nesse quesito, cada um tem para si critérios específicos. Mas para todos pesa a responsabilidade inerente a cada mudança de curso e, dessa forma, pode-se escolher a a semeadura, mas a colheita é obrigatória. Talvez seja esse mais um motivo que nos afaste delas. A vida sempre é mais simples sem elas. Se podemos ter tudo, o que há para sofrer?
Nossa conscência, então, nos empurra no caminho inverso e sofremos pela impossibilidade, por nossa peuliar pequenez. Queremos abraçar o mundo, mas somos formigas abraçando sequóias. E a consciência dessa pequenez nos dói e, mais uma vez, nos empurra na direção oposta.
Hoje ainda mais, diante de tantas opções, decidir é perder cada vez mais. Neste exato momento, pensem a infinidade de coisas perddas enquanto você lê este texto. Espero ter valido à pena.
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